Apofenia, (do grego apo [longe de] + phaenein [mostrar]), é o nome dado ao fenômeno cognitivo de percepção de padrões em dados aleatórios. Numa retrospectiva de 10 anos de produção ininterrupta, o jovem artista Pinkalsky apresenta mais de 90 trabalhos inéditos em lápis aquarelável, monotipia e litogravura, onde personagens e ambientes surgem a partir de manchas e vultos que assumem a forma das aflições que habitam o imaginário do artista.

Vernissage: 27 de fevereiro às 19h 

Exposição: de 27 de fevereiro a 28 de março de 2015

Curadoria: Mariana Coggiola

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Ao longo de uma produção intensa, desenvolvida no decorrer dos últimos dez anos, Guilherme Pinkalsky cria imagens a partir de manchas. Para tal, o artista faz uso de diversas técnicas experimentais, gráficas e pictóricas, afim de configurá-las e completá-las, de modo a construir sua percepção particular da pregnância das formas. Através do ato que confere identidade figurativa à borrões e agrupamentos abstratos de materiais diversos, o artista transporta interações entre paisagens e personagens de suas reminiscências íntimas ao mundo visível.

Os conceitos de representação e aparência das formas são aspectos cruciais da obra de Pinkalsky, advindas de sua incessante reflexão sobre os padrões visuais da natureza: Desde a organização microscópica das menores partículas conhecidas pelo homem até padrões do macrocosmo, como a NGC 6302, uma mancha cósmica cuja forma lhe dá o nome de "nebulosa da borboleta". A infinita dispersão e reorganização das substâncias que compõem o universo constituem uma das inquietações que alimentam o imaginário do artista.

Esse procedimento, contudo, não é automático. Ao caminhar por seu atelier, o artista aponta obras começadas há cinco ou seis anos, imbuídas de imenso valor gestual e expressivo, mas que a seus olhos permanecem inconclusas. A revelação da forma delineada advém de uma silenciosa e extensa contemplação das imagens, que aos poucos se transformam em arranjos reconhecíveis, estruturados de acordo com o crivo poético de Pinkalsky.

A transposição de recordações ao suporte atravessa uma preocupação com a transformação - e frequente perversão - do uso dos materiais disponíveis. Além do remix de insumos normalmente encontrados em um atelier de litografia, as obras recebem interferências pela fricção de lâminas, lixas d’água e estopas usadas. Para Pinkalsky não existe substância
desprovida de potencial de registro.

É possível observar nas obras presentes em “Apofenia” aspectos plásticos que ora remetem às angústias existenciais e ameaças invisíveis que afligiam Edvard Munch e os expressionistas, ora ao febril processo de adição e subtração de tinta desempenhado por Iberê Camargo, ambos artistas “amaldiçoados” por insilenciáveis questionamentos acerca da condição humana.

A despeito da dependência do acaso, o eixo narrativo presente nas obras é evidente e perpassa ambientes bucólicos e urbanos. Sem identificar as figuras humanas e cenários por
fisionomia ou topologia, o artista prescinde da necessidade de transmitir ao observador a individualidade destes personagens, se ocupando, ao invés disto, de uma sensação universal - a de quem acorda de um sonho conturbado incapaz de explicar seu conteúdo, mas tendo vivas as experiências e sentimentos causados por suas visões.

Cenas pitorescas ocupadas por vultos recém-partidos e ausências timidamente pronunciadas dão vida e cor ao extenuante processo de cristalização de vivências. A memória é um compêndio de imagens, ideias, impressões e emoções, e a prática de criação da forma funciona como uma espécie de mecanismo pelo qual o espírito as conserva. Ou, como na produção de Guilherme Pinkalsky, as recupera e recompõe.

Mariana Coggiola
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Projeto apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo / Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Ação Cultural 2015

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fotos: nino andres